Em Balama, Cabo Delgado, os Naparamas e comunidades locais barricam a mina de grafite da TWIGG Exploration, exigindo indenizações justas por terras ocupadas e demissões sem justa causa. Saiba mais sobre o conflito que paralisa a maior reserva de grafite do mundo.
Em um movimento que ecoa resistência e solidariedade, os Naparamas, grupo tradicional de milícias locais, uniram-se às comunidades afetadas pela exploração de grafite em Balama, Cabo Delgado, para manter fechada a mina operada pela TWIGG Exploration and Mining Limitada. Desde setembro de 2024, barricadas bloqueiam a entrada da mina, a maior reserva de grafite do mundo, enquanto a população exige indenizações justas pelas terras desapropriadas e contesta demissões de trabalhadores sem justa causa. A tensão, que já dura sete meses, ganhou novo fôlego com a presença dos Naparamas, que agora controlam a área para impedir qualquer tentativa de reabertura antes da resolução do conflito.
A mina de Balama, operada pela TWIGG, subsidiária da australiana Syrah Resources, é um marco global na produção de grafite, mineral essencial para baterias de carros elétricos e outras tecnologias. No entanto, o projeto, que ocupa cerca de 6 mil hectares, tem gerado descontentamento entre as comunidades locais desde seu início, em 2017. Segundo relatos, as compensações iniciais pelas terras agrícolas perdidas foram insuficientes, com pagamentos de 60 mil meticais por hectare, valor que aumentava apenas se houvesse árvores frutíferas. Além disso, nem todas as famílias receberam as indenizações prometidas, com algumas aguardando compensações futuras à medida que a mina expande suas operações.
A insatisfação se intensificou com demissões de trabalhadores locais, muitas sem justificativas claras, o que os manifestantes classificam como “sem justa causa”. Em 2020, a TWIGG demitiu 277 funcionários, alegando dificuldades financeiras devido à pandemia de Covid-19 e à guerra comercial entre Estados Unidos e China. Essas demissões, somadas às disparidades salariais entre trabalhadores locais e os provenientes de outras províncias, alimentaram o sentimento de discriminação e injustiça.
Os Naparamas, conhecidos por sua atuação em conflitos locais e por sua influência cultural em Cabo Delgado, entraram na disputa como aliados das comunidades. Sua presença fortaleceu as barricadas, transformando o protesto em um símbolo de resistência coletiva. O grupo assumiu o controle da área, garantindo que a mina permaneça fechada até que as demandas sejam atendidas. Essa aliança reflete a gravidade do impasse, já que os Naparamas raramente se envolvem em disputas econômicas sem amplo apoio popular.
O governador de Cabo Delgado, Valige Tauao, tentou mediar o conflito em três ocasiões, a mais recente em abril de 2025, mas não conseguiu convencer os manifestantes a suspender as barricadas. Reuniões com comunidades, representantes do governo distrital e líderes locais buscavam uma solução pacífica, mas as promessas de diálogo não foram suficientes para aplacar a revolta. A mina permanece fechada, impactando não apenas a economia local, mas também o fornecimento global de grafite, já que Balama responde por cerca de 6% da produção mundial do mineral.
A paralisação da mina, que já enfrentou interrupções em 2020 e 2023 devido à Covid-19 e à baixa demanda global, representa um duro golpe para a economia de Moçambique. Em 2024, a produção de grafite no país caiu 40%, atingindo apenas 11% da meta de 329 mil toneladas estipulada pelo governo. Apesar de um contrato de fornecimento de 10 mil toneladas para a BTR New Materials, na Indonésia, a instabilidade em Balama ameaça a reputação do país como fornecedor confiável de minerais críticos.
Para as comunidades locais, o impacto é ainda mais profundo. Balama, localizada em uma das regiões mais pobres de Moçambique, depende da mina para empregos e projetos sociais, como a reabilitação da barragem de Chipembe e a construção de furos de água. No entanto, a falta de coordenação entre a TWIGG e o governo distrital nas iniciativas de responsabilidade social tem gerado críticas, com os moradores apontando que os benefícios prometidos não chegaram a todos.
A situação em Balama expõe os desafios de equilibrar desenvolvimento econômico com justiça social em projetos de mineração. Especialistas sugerem que a TWIGG e o governo moçambicano precisam revisar as políticas de indenização, garantindo compensações transparentes e adequadas, além de investigar as alegações de demissões injustas. A inclusão de líderes comunitários e dos Naparamas nas negociações pode ser crucial para restaurar a confiança e evitar novos conflitos.
Enquanto as barricadas permanecem, Balama continua sendo um lembrete de que o progresso não pode ignorar as vozes das comunidades locais. A mina, que deveria impulsionar a economia e a inovação global, está paralisada por uma luta que vai além do grafite: é uma batalha por dignidade, respeito e justiça.
As 7 Principais Palavras-Chave: Naparamas, Balama, mina de grafite, TWIGG Exploration, indenização, demissões, Cabo Delgado