Faculdade de Medicina expulsa 12 alunos por faixa com apologia ao estupro

Em um caso que chocou a comunidade acadêmica, a Faculdade Santa Marcelina, localizada na Zona Leste de São Paulo, anunciou a expulsão de 12 estudantes do curso de medicina por exibirem uma faixa com a frase “entra porra, escorre sangue”, que faz apologia ao estupro. O incidente ocorreu em 15 de março de 2025, durante o Intercalo, uma competição esportiva entre calouros de faculdades de medicina. Além das expulsões, outros 11 alunos receberam suspensões e sanções disciplinares, e a Associação Atlética Acadêmica Pedro Vital foi interditada por tempo indeterminado.

O que aconteceu?

No dia 15 de março, membros da Atlética de Medicina posaram para uma foto segurando a faixa com a frase de cunho violento antes de uma partida de handebol. A imagem, que circulou em grupos internos da faculdade, gerou revolta entre estudantes, professores e a diretoria. Fontes consultadas pelo UOL confirmaram que a Atlética foi responsável pela compra e inscrição da frase na faixa, confeccionada após um treino de futsal no dia 13 de março, com participação direta de seus membros.

A frase, segundo relatos, foi inspirada em um antigo hino da Atlética, banido pela instituição em 2017 após denúncias do Coletivo Feminista Francisca. O hino continha referências explícitas à violência sexual, incluindo versos como “entra porra e sai sangue” e menções ofensivas a membros da Igreja que compõem o corpo docente da faculdade.

Após a repercussão, a Atlética publicou uma nota atribuindo a confecção da faixa aos calouros, mas, diante da pressão interna, emitiu um segundo comunicado anunciando o afastamento do presidente e vice-presidentes da gestão 2025. A página da Atlética nas redes sociais foi desativada, e a faculdade interditou suas atividades.

Resposta da faculdade e investigações

A Faculdade Santa Marcelina agiu rapidamente, instaurando sindicâncias em 21 de março para apurar o caso. Em comunicado divulgado no dia 28 de abril, a instituição anunciou as punições:

“As sindicâncias instauradas no dia 21 de março de 2025, em decorrência dos fatos ocorridos em 15 de março, com integrantes da Associação Atlética Acadêmica e relacionados a torneio esportivo, foram apreciadas em primeira instância nesta segunda-feira (28), sendo que 12 (doze) estudantes foram, nesta data, desligados da Instituição, e outros 11 (onze) estudantes receberam sanções regimentais que configuram suspensões e outras medidas disciplinares.”

A instituição não divulgou os nomes dos alunos punidos, impossibilitando o contato com suas defesas. Além das medidas internas, a faculdade comunicou o caso ao Ministério Público e à Polícia Civil, que instaurou um inquérito por meio da 8ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) para investigar as circunstâncias do ocorrido. A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) também protocolou uma denúncia no Ministério Público, exigindo a responsabilização dos envolvidos por considerar o ato de natureza criminosa.

Reações e contexto

O episódio foi amplamente condenado por entidades estudantis e de direitos humanos. O Centro Acadêmico Adib Jatene, da própria faculdade, classificou o caso como “apologia ao estupro”, afirmando que “não existem ‘piadas’ sobre temas como estupro, pois essa violência é uma preocupação crescente”. O Coletivo Feminista Francisca, que já havia denunciado o hino misógino em 2017, reforçou a gravidade do ocorrido, apontando a repetição de comportamentos machistas na instituição.

O caso reacende o debate sobre a cultura do estupro em ambientes universitários, especialmente em faculdades de medicina, onde episódios semelhantes já foram registrados. Em 2023, a Universidade Santo Amaro (Unisa) expulsou seis alunos por atos obscenos durante uma competição esportiva, embora alguns tenham revertido as punições na Justiça.

A torcida Sangue Azul e Amarelo, suposta autora do hino original, emitiu um comunicado repudiando a apologia ao estupro e negando compactuar com discursos de ódio, mas só se pronunciou após a recente polêmica.

Compromisso com a ética

A Faculdade Santa Marcelina reforçou seu compromisso com a transparência e os princípios éticos, destacando sua postura colaborativa com as autoridades. Em nota, a instituição afirmou:

“Comprometida com a transparência, os princípios éticos e morais, a dignidade social, acadêmica e a legislação vigente, a Faculdade Santa Marcelina reafirma sua postura proativa e colaborativa em relação ao assunto, perante as autoridades competentes.”

O caso continua sob investigação, e a interdição da Atlética sinaliza um esforço para coibir práticas que violem os valores da instituição. Contudo, a repetição de incidentes semelhantes levanta questões sobre a eficácia de medidas preventivas e a necessidade de uma mudança cultural mais profunda no ambiente universitário.

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Sobre o autor: Suleimane Wague
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