Por que plano de Netanyahu para Gaza ameaça dividir Israel, matar palestinos e enfurecer o mundo

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou um plano ousado e controverso: uma incursão militar de grande escala em Gaza, com o objetivo de tomar e manter o controle do território. A ofensiva, chamada “Gideon’s Chariots”, foi planejada para resgatar reféns ainda em poder do Hamas e, segundo o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Effie Defrin, levar ao “colapso do regime do Hamas, sua derrota e submissão”. Mas, enquanto Israel se prepara para a operação, o mundo observa com apreensão, e as divisões internas no país se aprofundam.

Uma Ofensiva com Altos Custos

A nova operação, que não começará antes da visita do presidente dos EUA, Donald Trump, a países do Oriente Médio na próxima semana, promete intensificar um conflito que já deixou marcas profundas. Desde os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, que mataram cerca de 1.200 pessoas e resultaram no sequestro de 251 reféns, a guerra em Gaza ceifou mais de 52.000 vidas palestinas, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

O plano de Netanyahu inclui deslocar os mais de dois milhões de civis palestinos para uma área reduzida no sul de Gaza, enquanto a ajuda humanitária seria distribuída por empresas privadas, possivelmente americanas. A ideia foi rejeitada pelas agências humanitárias da ONU, que a consideram uma violação dos princípios de assistência humanitária. A organização alertou ainda para o risco de fome generalizada, agravado pelo bloqueio israelense de ajuda, em vigor há mais de dois meses.

Condenação Internacional e Acusações de Crimes de Guerra

O bloqueio, descrito pelo ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, como uma “alavanca de pressão” contra o Hamas, foi amplamente condenado. Reino Unido, França e Alemanha, aliados históricos de Israel, classificaram a medida como “intolerável”, alertando que ela coloca um milhão de crianças em risco de fome, doenças e morte. “A ajuda humanitária nunca deve ser usada como ferramenta política”, declararam os chanceleres europeus, sugerindo que Israel pode estar violando o direito internacional.

A linguagem de autoridades israelenses, como o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que previu a “destruição total” de Gaza e a “realocação” de palestinos, alimenta temores de uma política de transferência forçada. Críticos, incluindo advogados sul-africanos que defendem um processo por genocídio contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), veem essas declarações como evidências de intenções de limpeza étnica.

Divisões em Israel: Reservistas e Famílias de Reféns em Oposição

Internamente, o plano de Netanyahu enfrenta resistência significativa. Após os ataques de 7 de outubro, milhares de israelenses se voluntariaram como reservistas para combater o Hamas. Agora, porém, muitos estão se recusando a servir, argumentando que a continuidade da guerra serve mais aos interesses políticos de Netanyahu do que à segurança do país. Eles temem que o fim do conflito leve ao colapso do governo e à responsabilização do premiê por falhas que permitiram o ataque inicial do Hamas.

As famílias dos 24 reféns vivos e dos 35 cujos corpos ainda estão em Gaza são as vozes mais críticas. Elas apontam que as maiores libertações de reféns ocorreram durante cessar-fogos, como o acordo mediado por Trump no final do governo Biden, que incluía uma fase para liberar todos os reféns e retirar as tropas israelenses de Gaza. A recusa de Netanyahu em avançar para essa segunda fase, sob pressão de aliados ultranacionalistas, intensificou as tensões.

O Papel de Trump e o Risco de uma Insurgência Perpétua

A relação entre Netanyahu e Trump será crucial. Embora o presidente americano tenha pressionado por um cessar-fogo inicial, sua postura atual parece dar carta branca a Israel. No entanto, a história sugere que a ofensiva pode não alcançar os objetivos declarados. Antony Blinken, ex-secretário de Estado dos EUA, alertou em janeiro de 2025 que o Hamas recrutou quase tantos militantes quanto perdeu, criando as condições para uma “insurgência duradoura e uma guerra perpétua”.

Embora Israel tenha enfraquecido a estrutura militar do Hamas, o grupo agora opera como uma insurgência, alimentada pela devastação em Gaza. A nova ofensiva, longe de forçar a libertação de reféns, pode aprofundar o sofrimento palestino, alienar aliados internacionais e dividir ainda mais a sociedade israelense.

Um Futuro Incerto

O plano de Netanyahu para Gaza é um divisor de águas. Para seus apoiadores, é um passo necessário para garantir a segurança de Israel. Para seus críticos, é uma estratégia arriscada que prolonga um conflito devastador por motivos políticos. Enquanto o mundo espera o desfecho da viagem de Trump, uma coisa é certa: sem um cessar-fogo, a paz permanece distante, e as cicatrizes da guerra só aumentam.

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Sobre o autor: Suleimane Wague
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