Índia x Paquistão: As Raízes do Conflito e o Papel da Caxemira em 3 Questões

Na madrugada de 7 de maio de 2025, o mundo prendeu a respiração quando a Índia lançou ataques com mísseis contra alvos no Paquistão, reacendendo um conflito que atravessa décadas. No coração dessa tensão está a Caxemira, uma região disputada que simboliza as cicatrizes de uma separação traumática. Mas como essa rivalidade começou, e por que ela persiste? Abaixo, respondemos em três questões fundamentais, desvendando as origens, os custos humanos e as consequências de uma das disputas mais perigosas do planeta.

1. Por que a Índia e o Paquistão foram divididos?

Em 1946, a Grã-Bretanha, exaurida pela Segunda Guerra Mundial, anunciou que concederia independência à Índia. O vice-rei Lord Louis Mountbatten fixou a data para 15 de agosto de 1947, mas a pressa britânica em deixar o subcontinente deixou pouco espaço para planejamento. A solução? Dividir o território em dois: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana.

A religião, usada como critério, foi um divisor artificial. “Os britânicos categorizaram as pessoas por crenças, criando listas eleitorais separadas para hindus e muçulmanos”, explica Navtej Purewal, professora indiana do Conselho de Pesquisa em Artes e Humanidades do Reino Unido. Essa separação política alimentou tensões, enquanto líderes como Muhammad Ali Jinnah, da Liga Muçulmana, exigiam um Paquistão independente, temendo a marginalização dos muçulmanos em uma Índia hindu.

Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru sonavam com uma Índia unida, mas a divisão foi vista como uma saída rápida. “Chegar a um acordo sobre uma Índia unificada levaria tempo demais”, diz Gareth Price, do think tank Chatham House. O resultado foi uma partição que, em vez de resolver conflitos, plantou as sementes de uma rivalidade duradoura.

2. Qual foi o custo humano da divisão?

A partição de 1947, desenhada às pressas pelo funcionário britânico Cyril Radcliffe, criou fronteiras que ignoravam a complexidade das comunidades. Hindus, muçulmanos e sikhs viviam misturados por todo o subcontinente, e a divisão forçou o deslocamento de cerca de 15 milhões de pessoas. Muitos abandonaram suas casas sob ameaça de violência.

A brutalidade foi avassaladora. Estima-se que entre 200 mil e um milhão de pessoas morreram em massacres, como os Assassinatos de Calcutá de 1946, ou sucumbiram a doenças em campos de refugiados. “Milícias hindus e muçulmanas expulsavam comunidades inteiras para consolidar poder”, relata Eleanor Newbigin, historiadora da Universidade SOAS. Dezenas de milhares de mulheres sofreram sequestros, estupros e mutilações, marcando a partição como uma das maiores tragédias humanitárias do século XX.

3. Por que a Caxemira é o epicentro do conflito?

A Caxemira, uma região de beleza estonteante e diversidade cultural, tornou-se o símbolo do impasse entre Índia e Paquistão. Ambos os países reivindicam seu controle total, mas hoje administram partes separadas, divididas por uma linha de cessar-fogo. Desde 1947, a região foi palco de duas guerras (1947-1948 e 1965) e do confronto de Kargil, em 1999. Os ataques indianos de 7 de maio de 2025, que atingiram alvos na Caxemira paquistanesa, são um lembrete de que a disputa está longe de acabar.

A tensão é agravada pelo fato de que Índia e Paquistão possuem armas nucleares, o que eleva o conflito a uma preocupação global. “O legado da partição criou maiorias religiosas dominantes e minorias vulneráveis em ambos os lados”, observa Newbigin. No Paquistão, menos de 2% da população é hindu, enquanto a Índia vê um crescimento do nacionalismo hindu. A insistência em estados centralizados, segundo Purewal, dificultou a coexistência de minorias, tornando a Caxemira um campo de batalha ideológico e territorial.

Um conflito que desafia o futuro

A divisão de 1947 não foi apenas um evento histórico; foi um trauma que moldou identidades, políticas e fronteiras. A Caxemira, com sua história de violência e aspirações de autodeterminação, permanece como um lembrete de que soluções rápidas raramente resolvem problemas complexos. Enquanto Índia e Paquistão trocam acusações e mísseis, o mundo observa, ciente de que a paz na região é essencial para a estabilidade global.

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Sobre o autor: Suleimane Wague
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