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Em um campo de treinamento próximo a Wroclaw, na Polônia, o som de tiros ecoa enquanto civis de todas as idades — jovens, idosos, pais e filhos — aprendem a manejar armas. O programa “Treine com o Exército”, realizado aos sábados, vai além do estande de tiro: ensina combate corpo a corpo, primeiros socorros e até como usar máscaras de gás. A mensagem é clara: a Polônia está se preparando para uma possível invasão russa.
A Polônia, que faz fronteira com a Rússia e a Ucrânia, vive um momento de alerta máximo. O governo promete investir quase 5% do PIB em defesa em 2025, o maior percentual da Otan. “Os tempos são perigosos, precisamos estar preparados”, diz o capitão Adam Sielicki, coordenador do programa de treinamento. Com vagas esgotadas, o governo planeja expandir o projeto para alcançar todos os homens adultos do país.
O primeiro-ministro Donald Tusk reforça a ambição: “Queremos o exército mais forte da região”. Varsóvia tem comprado aviões, navios, artilharia e mísseis de países como Estados Unidos, Suécia e Coreia do Sul. As forças armadas, hoje com 216 mil militares, devem crescer para meio milhão, incluindo reservistas, tornando-se o segundo maior exército da Otan, atrás apenas dos EUA.
A eleição de Donald Trump intensificou a insegurança. Declarações do presidente americano e de sua equipe, como a do secretário de Defesa Pete Hegseth, que questionou a permanência eterna de tropas dos EUA na Europa, geraram apreensão. A retirada de uma base militar em Rzeszow, embora com redistribuição interna, alimentou temores. “Trump quer tirar os EUA da Europa. Nos sentimos menos protegidos”, diz Agata, uma participante do treinamento em Wroclaw.
A hostilidade de Trump ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e seus elogios a Vladimir Putin também preocupam Varsóvia. Em resposta, a Polônia busca novos aliados, com acordos de defesa em negociação com França e Reino Unido. Há até conversas sobre integrar o país ao “guarda-chuva nuclear” francês. “Trump nos forçou a pensar de forma criativa sobre nossa segurança”, afirma Tomasz Szatkowski, representante da Polônia na Otan.
A história da Polônia, marcada por invasões, molda sua postura atual. Wanda Traczyk-Stawska, de 98 anos, sobrevivente da ocupação soviética de 1939 e da Revolta de Varsóvia de 1944, lembra: “Sabíamos que a Rússia nos atacara”. Para ela, o aumento do investimento militar é essencial. “A agressividade da Rússia está escrita na sua história. É melhor ser um país bem armado”, diz a veterana.
O trauma da dominação soviética, que durou até 1989, ainda ecoa. “Se a Rússia continuar com suas intenções agressivas, seremos a linha de frente”, alerta Szatkowski. Essa percepção impulsiona iniciativas como a construção de abrigos antiaéreos. Janusz Janczy, da ShelterPro, relata um aumento na procura desde a eleição de Trump: “Antes eram alguns telefonemas por mês. Agora são dezenas por semana”.
Apesar do fervor patriótico de alguns, como Dariusz, que se diz pronto para lutar, e Bartek, que acredita que a maioria pegaria em armas, nem todos compartilham esse espírito. Uma pesquisa revela que apenas 10,7% dos adultos se voluntariariam em caso de guerra, enquanto um terço admite que fugiria. Entre jovens, o desânimo é evidente. “A guerra parece distante”, diz Marcel, estudante de medicina. “Não vejo nada que valha a pena morrer por”, confessa Szymon, outro universitário.
A Polônia está transformando sua ansiedade em ação. De cidadãos aprendendo a atirar a investimentos bilionários em defesa, o país se posiciona como uma fortaleza na Europa Oriental. Enquanto a ameaça russa paira e as alianças globais oscilam, os poloneses se preparam para defender sua soberania, guiados por um passado de resistência e um presente de determinação.