Sánchez Responde a Trump: "Espanha é Soberana e a Política Comercial Passa por Bruxelas"

Na sequência das ameaças de Donald Trump durante a Cimeira da NATO em Haia, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, respondeu com firmeza no Conselho Europeu, em Bruxelas, a 26 de junho de 2025, afirmando que a Espanha é um “país soberano” e que qualquer negociação comercial com a União Europeia (UE) deve ser conduzida através de Bruxelas. Num tom conciliador, mas assertivo, Sánchez defendeu a posição espanhola de manter os gastos em defesa nos 2,1% do PIB, rejeitando a meta de 5% exigida pela NATO, e criticou as tarifas comerciais “injustas” impostas pelos EUA. Além disso, o líder espanhol abordou a crise humanitária em Gaza, denunciando o que classificou como um “genocídio” e pedindo a suspensão imediata do acordo de associação da UE com Israel.

Uma Resposta Firme à Casa Branca

Durante o Conselho Europeu, Pedro Sánchez não hesitou em responder às críticas e ameaças de Trump, que na véspera acusara Espanha de ser o único país da NATO a recusar a meta de 5% do PIB em gastos militares, ameaçando impor tarifas comerciais que poderiam “afundar” a economia espanhola. Sánchez foi claro: “A Espanha é um país solidário, comprometido com os Estados-Membros da Aliança, mas também soberano.” Ele destacou o equilíbrio alcançado na declaração final da cimeira da NATO, acordada pelos 32 membros, incluindo os EUA, que permite a Espanha manter a sua meta de 2,1% com “flexibilidade soberana” para cumprir os objetivos da Aliança.

Sobre as ameaças de uma guerra comercial, Sánchez recordou a Trump que a política comercial com qualquer Estado-membro da UE é competência de Bruxelas, que negoceia em nome de todos os 27 países da união aduaneira e do mercado único. “A política comercial é negociada por Bruxelas em nome de todos os Estados-Membros”, afirmou, ecoando as palavras recentes do seu ministro da Economia, Carlos Cuerpo. Sánchez foi mais longe, criticando as tarifas aduaneiras impostas pela administração Trump como “injustas e unilaterais”, especialmente para Espanha, que mantém um défice comercial com os EUA, ao contrário de países com excedentes.

Tom Conciliador, Mas com Princípios

Apesar do tom crítico, Sánchez procurou manter uma postura diplomática. Respondendo aos comentários de Trump, que afirmou “gostar muito de Espanha” e conhecer “muita gente” no país, o primeiro-ministro espanhol declarou: “A Espanha é um país aberto e amigo dos seus amigos. Os Estados Unidos são um amigo de Espanha.” Esta abordagem reflete o esforço de Sánchez em preservar as relações bilaterais, mesmo diante das tensões com a Casa Branca.

O líder espanhol também celebrou o resultado da Cimeira da NATO como “positivo”, reiterando o compromisso de Espanha em cumprir o acordado na declaração de Haia. A flexibilidade garantida pela NATO, sob a liderança de Mark Rutte, permite a Espanha manter os 2,1% do PIB em despesas de defesa, um valor que Sánchez considera suficiente para cumprir os objetivos estratégicos da Aliança, especialmente devido à eficiência da indústria de defesa espanhola e à sua capacidade de otimizar recursos.

Gaza: Um Apelo à Ação Humanitária

À margem do Conselho Europeu, Sánchez abordou a crise no Médio Oriente, denunciando a “situação catastrófica de genocídio” em Gaza. O primeiro-ministro espanhol apelou a um “acesso imediato e urgente à ajuda humanitária” no enclave palestiniano, liderado pelas Nações Unidas. Num tom incisivo, defendeu que a UE deve suspender imediatamente o seu acordo de associação com Israel, argumentando que a gravidade da situação exige uma resposta clara e urgente por parte da Europa.

A posição de Sánchez sobre Gaza reforça a sua liderança progressista no contexto europeu, alinhando-se com a sua defesa de políticas humanitárias e de uma abordagem multilateral para resolver conflitos. Esta postura, no entanto, pode gerar atritos com aliados da NATO, como os EUA, que mantêm uma relação próxima com Israel.

Um Equilíbrio Delicado

A resposta de Sánchez a Trump e a sua posição sobre Gaza refletem o delicado equilíbrio que o primeiro-ministro espanhol procura manter: afirmar a soberania de Espanha e a sua lealdade à UE, enquanto evita uma escalada de tensões com os EUA e preserva a coesão na NATO. A insistência em negociar a política comercial através de Bruxelas é um lembrete do peso da UE como bloco económico, enquanto a defesa dos 2,1% do PIB em gastos militares sublinha a determinação de Sánchez em proteger as prioridades domésticas, como o estado social e a transição verde.

No entanto, as críticas de líderes como o primeiro-ministro belga, Bart De Wever, e as pressões de Trump sugerem que a posição espanhola continuará a ser um ponto de fricção dentro da NATO. A capacidade de Sánchez para navegar estas tensões, mantendo a unidade com os aliados europeus e a amizade com os EUA, será crucial nos próximos meses, especialmente com a revisão dos compromissos da NATO prevista para 2029.

Um Mundo em Tensão

O confronto entre Sánchez e Trump, combinado com o apelo de Espanha por uma ação humanitária em Gaza, destaca o papel crescente da Espanha na política global. Enquanto Sánchez defende a soberania e os interesses do seu país, a Europa enfrenta o desafio de responder a um mundo cada vez mais polarizado, onde as tensões comerciais e as crises humanitárias testam a coesão dos blocos regionais.

O Conselho Europeu de Bruxelas, tal como a Cimeira da NATO em Haia, evidencia que a unidade entre aliados é frágil, mas essencial. Resta saber se a abordagem de Sánchez, que combina firmeza e diplomacia, será suficiente para apaziguar as críticas e manter Espanha como um ator relevante no cenário internacional.

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Sobre o autor: Maimuna Carvalho
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