M aputo, 27 de junho de 2025 – Em um tom de desapontamento e indignação, o político moçambicano Venâncio Mondlane acusou o presidente Daniel Chapo de não cumprir os acordos firmados para a pacificação do país após as conturbadas eleições gerais de outubro de 2024. As declarações, feitas à saída de uma audiência na Procuradoria-Geral da República, em Maputo, reacenderam o debate sobre a instabilidade política em Moçambique e a tensão entre o governo e a oposição.
Após meses de protestos violentos que resultaram em cerca de 400 mortes e danos materiais significativos, Mondlane e Chapo se reuniram em 23 de março e 20 de maio para discutir a pacificação do país. Esses encontros, junto com um acordo assinado em 5 de maio com todos os partidos, previam a revisão da lei eleitoral, da Constituição e dos poderes do chefe de Estado. No entanto, Mondlane afirmou que “nada do que foi acordado está sendo implementado, nem no discurso, nem nos posicionamentos, nem na execução”.
“Ou [Chapo] tem uma personalidade bipolar, ou está sofrendo uma grande pressão dentro da FRELIMO”, disparou o ex-candidato presidencial, sugerindo que fatores internos ao partido no poder podem estar influenciando o presidente. Apesar da crítica, Mondlane reiterou sua disposição para o diálogo, enfatizando que age “em perfeita boa-fé” para buscar a pacificação.
A audiência na Procuradoria-Geral, cujo propósito foi “esclarecer um ponto em particular” sobre as manifestações pós-eleitorais, foi marcada por tumulto. Após a saída de Mondlane, forças de segurança lançaram gás lacrimogéneo contra apoiantes que se reuniram nas proximidades, gerando pânico. Um vendedor local relatou à DW: “Estava a ver o Venâncio ali. De repente, veio o carro da polícia e começaram a disparar gás lacrimogéneo contra nós. Não aconteceu nada de mal”. O incidente reforça a tensão que persiste nas ruas de Maputo, meses após as eleições.
Mondlane, que ainda não teve acesso às acusações formais contra si, destacou a falta de transparência nos processos judiciais. “Eu ainda não conheço os crimes de que sou acusado”, afirmou aos jornalistas, levantando questionamentos sobre a condução das investigações.
Apesar das frustrações, Mondlane anunciou que participará do Conselho de Estado, decisão impulsionada por uma consulta popular. “Lançámos um inquérito ao qual responderam 10.650 pessoas. Dessas, 80% não me aconselhou, ordenou-me a ir ao Conselho de Estado. Por isso, tenho de ir”, declarou. Ele já apresentou uma proposta de revisão da lei do Conselho, criticando sua inadequação. “É uma lei totalmente desadequada, que não corresponde a um órgão daquela natureza”, afirmou, sinalizando sua intenção de contribuir ativamente para reformas estruturais.
As eleições de outubro de 2024, que deram vitória a Daniel Chapo e à FRELIMO, foram marcadas por denúncias de irregularidades e protestos violentos. A crise pós-eleitoral expôs as profundas divisões políticas em Moçambique, com Mondlane emergindo como uma figura central na oposição. Sua insistência na pacificação e na revisão das leis eleitorais reflete o desejo de muitos moçambicanos por um sistema mais transparente e justo.
Enquanto as tensões persistem, o país aguarda sinais concretos de que os acordos de pacificação serão cumpridos. A relação entre Mondlane e Chapo, agora abalada por acusações públicas, será crucial para determinar se Moçambique conseguirá superar sua crise política.
Meta descrição: Venâncio Mondlane acusa Daniel Chapo de não cumprir acordos de pacificação em Moçambique, sugerindo “dupla personalidade” ou pressão da FRELIMO. Leia mais sobre a crise política e as tensões nas ruas de Maputo.