Vendedores Informais de Xiquelene Começam a Abandonar Passeios: Um Passo Tímido Rumo à Reorganização Urbana

Maputo, 10 de julho de 2025 – A paisagem urbana da Praça dos Combatentes, popularmente conhecida como Xiquelene, na cidade de Maputo, começa a mostrar sinais de mudança. Após um ultimato do Conselho Municipal de Maputo, que deu sete dias para que cerca de três mil vendedores informais desocupassem os passeios e bermas da estrada, alguns comerciantes já iniciaram a transição para mercados formais, como o Mucoreano, Compone e 1 de Junho. A movimentação, embora tímida, é um reflexo das pressões por uma cidade mais organizada e da busca por equilíbrio entre o sustento dos vendedores e a ordem pública.

Um Ultimato para a Ordem Urbana

Na última segunda-feira, o Município de Maputo, por meio do porta-voz da Polícia Municipal, Naftal Lai, anunciou que os vendedores informais da Praça dos Combatentes tinham uma semana para abandonar os passeios. A medida visa restaurar a livre circulação de pedestres, melhorar a segurança rodoviária e devolver a estética à capital moçambicana. A ocupação desordenada dos passeios, que oferecem desde roupas e cosméticos até alimentos frescos, tem gerado transtornos, como acidentes e dificuldades de locomoção, segundo relatos de pedestres como Nilza Macuacua.

Apesar da resistência inicial, alguns vendedores já começaram a ocupar bancas nos mercados designados. No mercado Mucoreano, por exemplo, 125 das 132 bancas disponíveis já estavam ocupadas até quarta-feira, conforme apurado pelo jornal O País. Vendedoras como Leonor Júlio, que comercializa frutas, e Laurinda Alfredo, que abandonou a venda na estrada, expressaram satisfação com a transição. “Estou feliz por ter conseguido esta banca. A partir de amanhã, estarei aqui”, afirmou Laurinda, sinalizando esperança em um novo capítulo para seu negócio.

O Drama dos Vendedores Informais

A venda informal é a principal fonte de sustento para milhares de famílias em Maputo. “Os nossos filhos estudam graças a esse trabalho. Estamos a evitar roubar coisas alheias”, disse um vendedor anônimo à imprensa, destacando a importância econômica do comércio nas ruas. No entanto, os informais enfrentam um dilema: enquanto reconhecem que a ocupação dos passeios compromete a segurança e a estética da cidade, muitos afirmam não ter alternativas viáveis. Mercados como o Mucoreano, apesar de serem uma opção, são criticados por alguns comerciantes por falta de clientela ou condições inadequadas, como ausência de sanitários e água canalizada.

A resistência dos vendedores não é nova. Em 2019, a Autarquia de Maputo enfrentou um “braço de ferro” com os informais, que se recusaram a deixar os passeios, alegando que o mercado Mucoreano era pequeno e pouco atrativo para clientes. A história se repetiu em 2020, quando confrontos entre vendedores e a polícia municipal, com uso de gás lacrimogêneo, marcaram tentativas frustradas de retirada compulsória.

O Papel do Município e os Desafios à Frente

O Conselho Municipal de Maputo reconhece a complexidade da situação. Em maio de 2024, o presidente Rasaque Manhique admitiu que os mercados formais da cidade não têm capacidade para absorver todos os vendedores informais, prometendo não removê-los à força até que espaços adequados sejam criados. Um novo mercado está em construção no Centro Emissor de Laulane, mas a falta de infraestrutura continua sendo um obstáculo.

Enquanto isso, a Polícia Municipal intensifica a fiscalização, mas enfrenta acusações de práticas abusivas, como cobranças ilícitas para permitir a permanência dos vendedores nos passeios. “Quando a polícia aproxima, simulamos uma fuga e depois continuamos a vender”, revelou Aida Nenane, vendedora de roupas, em 2022, apontando para uma relação tensa entre os informais e as autoridades.

Um Futuro em Construção

A transição dos vendedores informais de Xiquelene para mercados formais é um passo tímido, mas significativo, na busca por uma Maputo mais organizada e acessível. Para os comerciantes, a mudança representa não apenas uma questão de logística, mas de sobrevivência. “Não é fácil desmantelar um negócio feito há anos para alimentar nossos filhos”, afirmou Dino Alves, vendedor de calçados, em entrevista recente.

Enquanto o município avança com planos de reestruturação urbana, a colaboração com os vendedores será essencial. Mara Chipa, representante da Comissão dos Vendedores Informais, vê com otimismo as promessas de diálogo e apoio do edil. “Vamos trabalhar com o município para nos ajudar”, declarou.

A história de Xiquelene reflete o desafio de equilibrar desenvolvimento urbano com inclusão social. À medida que Maputo busca um novo rosto, o destino dos vendedores informais permanece no centro do debate, com a esperança de que soluções sustentáveis tragam benefícios tanto para a cidade quanto para aqueles que a fazem pulsar.

Partilhe este conteúdo

Mais Notícias

Sobre o autor: Maimuna Carvalho
Tell us something about yourself.
Shopping Basket
Please select your product
0
YOUR CART
  • No products in the cart.