Eslováquia Ameaça Bloquear Novo Pacote de Sanções da UE contra a Rússia: Crise Interna à Vista

A  Eslováquia colocou a União Europeia (UE) em alerta ao ameaçar vetar o 18º pacote de sanções contra a Rússia, intensificando tensões internas no bloco. O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, afirmou que não aceitará as medidas propostas sem garantias de que a proibição de importações de gás russo, prevista para 2028, não prejudicará a economia de seu país. A posição de Fico, que já foi alvo de críticas por sua postura pró-Rússia, expõe divisões dentro da UE e levanta questões sobre a unidade do bloco diante do conflito na Ucrânia.

Contexto da Ameaça Eslovaca

A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, levou a UE a implementar sucessivos pacotes de sanções contra Moscou, visando pressionar o Kremlin a cessar suas ações militares. O 18º pacote, que será discutido pelos ministros das Relações Exteriores da UE em Bruxelas, inclui medidas como a proibição total de importações de gás russo a partir de 2028. No entanto, a Eslováquia, altamente dependente do gás russo, teme impactos econômicos severos, como aumento de custos para famílias e empresas.

Robert Fico, conhecido por sua retórica populista e por ser um dos poucos líderes europeus a manter laços abertos com Moscou, classificou a proposta de banir o gás russo como uma “decisão ideológica”. Ele argumentou que a medida não pode penalizar a população eslovaca e exigiu garantias concretas antes de aprovar o pacote. Fico também destacou que buscará negociações diretas com líderes como o chanceler alemão Friedrich Merz, em vez de confiar apenas nas propostas da Comissão Europeia.

Uma Posição Isolada?

A Eslováquia não está sozinha em sua resistência. A Hungria, outro país que mantém relações próximas com a Rússia, também bloqueou o mesmo pacote de sanções, embora sem especificar condições claras para sua aprovação. Juntos, os dois países formam uma minoria dissidente dentro da UE, que exige unanimidade para aprovar sanções. Essa situação cria um impasse significativo, já que o Parlamento Europeu pressionou recentemente pela adoção imediata dessas medidas.

A postura da Eslováquia reflete uma preocupação prática: o país depende de gás russo importado por gasodutos, assim como a Hungria, a Bulgária e outros membros da UE. Além disso, a Eslováquia e a Hungria são os únicos países do bloco que não fornecem apoio militar direto à Ucrânia, o que reforça a percepção de que ambos adotam uma linha mais alinhada com os interesses russos. A participação de Fico nas comemorações da vitória soviética em Moscou, em maio de 2025, também gerou críticas e evidenciou sua proximidade com o Kremlin.

Impactos na Unidade Europeia

A ameaça de veto da Eslováquia pode desencadear uma “grande crise interna” na UE, como alertou o próprio Fico. A necessidade de unanimidade para aprovar sanções dá a cada país membro um poder de veto significativo, o que pode paralisar a resposta do bloco à guerra na Ucrânia. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, enfrenta críticas por sua gestão do processo, com alguns apontando sua abordagem como incapaz de contornar as resistências de países como Eslováquia e Hungria.

Enquanto isso, a Ucrânia intensifica seus apelos por sanções mais duras contra a Rússia, especialmente após os recentes ataques aéreos russos, que incluíram mais de 700 drones e mísseis balísticos, resultando em pelo menos nove mortes em Kiev. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu “sanções severas” para pressionar Moscou a sentir as consequências de suas ações.

O Que Está em Jogo?

O bloqueio eslovaco não apenas atrasa a implementação de novas sanções, mas também ameaça a coesão da UE em um momento crítico. A dependência energética de alguns membros do bloco, como a Eslováquia, continua sendo um obstáculo para medidas mais agressivas contra a Rússia. Além disso, a proposta de sanções secundárias, apoiada por von der Leyen e discutida no Senado dos EUA, poderia impactar países como o Brasil, que importa óleo diesel e fertilizantes russos, complicando ainda mais o cenário global.

Por outro lado, a resistência da Eslováquia pode forçar a UE a buscar soluções alternativas, como acordos bilaterais para mitigar os impactos econômicos em países dependentes do gás russo. A visita da Comissão Europeia a Bratislava, prevista para após as negociações, pode ser um passo nessa direção.

Conclusão

A ameaça da Eslováquia de bloquear o 18º pacote de sanções contra a Rússia expõe as fragilidades da unidade europeia em meio à guerra na Ucrânia. Enquanto Robert Fico defende os interesses econômicos de seu país, a UE enfrenta o desafio de equilibrar solidariedade com a Ucrânia e as necessidades energéticas de seus membros. O desfecho das negociações em Bruxelas será crucial para determinar se o bloco conseguirá manter sua pressão sobre Moscou ou se cederá às divisões internas.

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Sobre o autor: Maimuna Carvalho
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