Ameaça nuclear persiste, diz especialista sobre declaração de Putin

Em uma recente declaração, o presidente russo Vladimir Putin afirmou que não vê necessidade imediata de usar armas nucleares no conflito na Ucrânia, expressando esperança de que tal cenário nunca se concretize. No entanto, as palavras aparentemente conciliatórias escondem uma ameaça velada, segundo o professor Vitelio Brustolin, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard, em entrevista à CNN.

Brustolin, especialista em relações internacionais e segurança global, alertou que a retórica de Putin não elimina o risco de escalada nuclear. “Ele pode dizer que não quer usar, mas a ameaça está lá, como uma carta na manga. É uma forma de chantagem geopolítica”, afirmou. A possibilidade de uso de armas nucleares, mesmo que remota, carrega consequências catastróficas, não apenas para a Ucrânia, mas para toda a Europa. “A radiação não respeita fronteiras. Ventos e chuvas espalhariam o impacto por todo o continente”, explicou o professor.

Um Conflito em Ponto Morto

Iniciado em fevereiro de 2022, o conflito na Ucrânia se transformou no maior confronto terrestre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Após quase três anos, a guerra permanece em um impasse, com nenhum dos lados — Rússia ou Ucrânia, apoiada pelo Ocidente — alcançando uma vitória militar decisiva. “É uma guerra de atrito, onde o desgaste humano e econômico é imenso”, analisou Brustolin.

A Rússia, sob o comando de Putin, mantém o controle de aproximadamente 20% do território ucraniano, incluindo partes das regiões de Donetsk, Luhansk e a península da Crimeia, anexada em 2014. Essa expansão territorial, segundo Brustolin, viola diretamente a Carta da ONU, que proíbe guerras de anexação pelo uso da força. “O direito internacional está sendo desafiado abertamente, e isso cria um precedente perigoso”, destacou o especialista.

A Expansão Russa e o Medo dos Vizinhos

Além do impasse militar, Brustolin apontou para as preocupações crescentes de países vizinhos, como Polônia, Finlândia e os Estados Bálticos, sobre as ambições expansionistas da Rússia. “A Europa não acredita que Putin vai parar na Ucrânia”, afirmou, ecoando temores de que um acordo de paz mal negociado possa encorajar novas agressões. A entrada de Suécia e Finlândia na OTAN, em 2022, reflete essa percepção de ameaça, marcando o fim de décadas de neutralidade desses países.

A retórica nuclear de Putin, embora suavizada em sua última declaração, já apareceu em tons mais agressivos no passado. Em novembro de 2024, ele aprovou uma nova doutrina nuclear, sugerindo respostas nucleares a ataques contra a Rússia, incluindo os territórios ocupados na Ucrânia. Essa postura mantém o mundo em alerta, com líderes globais temendo uma escalada que poderia levar a consequências inimagináveis.

O Papel da ONU e o Direito Internacional

A incapacidade da ONU de conter o conflito expõe as limitações do sistema internacional. Brustolin lembrou que o Conselho de Segurança, onde a Rússia é membro permanente com poder de veto, foi projetado para evitar guerras, mas está paralisado. “Quando Zelensky fala na Assembleia Geral, ele está denunciando que a ONU não cumpre sua função principal: garantir a paz”, observou.

O especialista também destacou o Memorando de Budapeste, de 1994, no qual a Ucrânia abriu mão de seu arsenal nuclear em troca de garantias de segurança de Rússia, Estados Unidos e Reino Unido. “A Rússia descumpriu esse acordo ao invadir a Ucrânia, primeiro em 2014, com a Crimeia, e agora em 2022. Isso abala a confiança em tratados internacionais”, afirmou Brustolin.

Um Futuro Incerto

Enquanto o conflito se arrasta, o mundo observa com apreensão. A ameaça nuclear, mesmo que velada, paira como uma sombra sobre as negociações de paz. Qualquer acordo, segundo Brustolin, deve incluir garantias concretas de segurança para a Ucrânia e respeito ao direito internacional. “Um acordo malfeito, como o Pacto de Munique em 1938, pode levar a guerras ainda maiores”, alertou, referindo-se ao precedente histórico que abriu caminho para a Segunda Guerra Mundial.

Por enquanto, a guerra na Ucrânia continua a desafiar a ordem global, com milhares de vidas perdidas e milhões de refugiados. A declaração de Putin pode soar como um alívio momentâneo, mas, como Brustolin conclui, “o risco está longe de desaparecer. A chantagem nuclear é uma ferramenta de pressão, e o mundo não pode baixar a guarda”.

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Sobre o autor: Suleimane Wague
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