Na madrugada de sexta-feira, 2 de maio de 2025, o navio The Conscience, operado pela Freedom Flotilla Coalition, foi alvo de um ataque por drones em águas internacionais, a cerca de 14 a 17 milhas náuticas da costa de Malta. A embarcação, que transportava ajuda humanitária destinada à Faixa de Gaza, emitiu um sinal de SOS às 00h23 (horário local) após explosões que causaram um incêndio a bordo e danos significativos ao casco. Ativistas a bordo, incluindo o brasileiro Thiago Ávila, apontam Israel como responsável pelo ataque, embora as Forças Armadas de Israel afirmem estar investigando as denúncias.
O incidente, ocorrido próximo a um país membro da União Europeia, levantou preocupações globais sobre violações do direito internacional e intensificou o debate sobre o bloqueio imposto por Israel a Gaza, que impede a entrada de alimentos, medicamentos e combustíveis há dois meses. A ativista climática Greta Thunberg, que planejava embarcar no navio em Malta, classificou o ataque como um “exemplo claro do desrespeito ao direito internacional e aos direitos humanos”.
A Freedom Flotilla Coalition, uma rede internacional de ativistas pró-Palestina, organiza missões para desafiar o bloqueio marítimo de Gaza, imposto por Israel e Egito desde 2007, após o Hamas assumir o controle do território. O The Conscience transportava suprimentos médicos e alimentos, com o objetivo de aliviar a crise humanitária que afeta os 2,3 milhões de moradores de Gaza. Segundo a ONU, 91% da população local enfrenta níveis críticos de insegurança alimentar, com risco iminente de fome.
A missão contava com 30 ativistas de 13 países, incluindo Thiago Ávila, que relatou que o grupo operava em sigilo para evitar sabotagens. “Temos uma delegação com dezenas de pessoas, algumas já embarcadas, outras prontas para embarcar, e o navio foi bombardeado horas antes da partida”, declarou Ávila. A ONG afirma que o ataque visou o gerador do navio, deixando-o sem energia e em risco de afundar.
O governo de Malta confirmou que o incêndio foi controlado por um rebocador enviado ao local, mas informou que a tripulação, composta por 12 membros e quatro civis, recusou-se a abandonar o navio. A Freedom Flotilla Coalition, no entanto, insiste que havia 30 pessoas a bordo e pediu às autoridades maltesas passagem segura para evitar novos ataques.
Nas redes sociais, ativistas como Ávila cobraram ação imediata de Malta e da comunidade internacional. “Não podemos aceitar isso em águas internacionais”, escreveu ele, exigindo que embaixadores israelenses sejam convocados para responder por “violações do direito internacional”. O Hamas, por sua vez, classificou o incidente como “pirataria” e “terrorismo de Estado”.
Greta Thunberg, que estava em Valeta aguardando para embarcar, destacou a gravidade do ataque: “O navio está parado porque movê-lo pode agravar o vazamento. Continuaremos exigindo uma Palestina livre e a abertura de um corredor humanitário.”
O ataque ao The Conscience ocorre em meio a uma escalada da crise humanitária em Gaza. Desde 2 de março de 2025, Israel bloqueou completamente a entrada de suprimentos, após o colapso de um cessar-fogo de dois meses com o Hamas. O Programa Mundial de Alimentos (WFP) relatou que seus estoques estão esgotados, e cozinhas comunitárias alertam que os mantimentos restantes estão acabando. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha descreveu a situação como “à beira do colapso total”.
A guerra em Gaza, iniciada após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas e fez 251 reféns, já resultou em mais de 52.418 mortes no território, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas. Israel justifica o bloqueio como uma medida para pressionar o Hamas a liberar reféns, mas organizações humanitárias criticam a ação como punição coletiva, potencialmente configurando um crime de guerra.
Não é a primeira vez que a Freedom Flotilla Coalition enfrenta resistência. Em 2010, a missão Mavi Marmara terminou em tragédia quando forças israelenses interceptaram o navio, matando nove ativistas turcos. Uma investigação da ONU considerou o ataque desproporcional e ilegal. Desde então, a coalizão continua organizando flotilhas para chamar atenção para o bloqueio, frequentemente enfrentando obstáculos logísticos e políticos.
A missão de 2025 foi planejada sob sigilo, após tentativas frustradas em 2024, quando navios foram retidos na Turquia. A escolha de Malta como ponto de partida reflete esforços para evitar interferências, mas o ataque sugere que a vigilância sobre as operações da ONG permanece intensa.
O destino do The Conscience permanece incerto. A embarcação, danificada e sem energia, continua em águas internacionais, monitorada pelas autoridades maltesas. A Freedom Flotilla Coalition pediu apoio internacional para proteger a tripulação e completar a missão, enquanto pressiona por investigações sobre o ataque. Israel, por sua vez, não confirmou nem negou envolvimento, mas a precisão do ataque, que atingiu o gerador, sugere uma operação planejada, segundo analistas.
Para os ativistas, o incidente reforça a urgência de romper o bloqueio de Gaza. “Esse ataque é uma extensão do que está acontecendo em Gaza”, afirmou Nicole Jenes, da Freedom Flotilla Coalition, à Al Jazeera. “Não podemos permitir que passe impune.”
Enquanto o mundo observa, a pergunta que permanece é: até quando a crise humanitária em Gaza será agravada por confrontos como esse? O ataque ao The Conscience não é apenas um incidente isolado — é um reflexo de um conflito complexo, onde a ajuda humanitária se torna alvo em meio a tensões geopolíticas.