Boeing: troco da China a Trump visa causar dor em setor sensível dos EUA

Em um movimento que ecoa como um trovão no cenário global, a China ordenou que suas companhias aéreas suspendam a aceitação de novas entregas de jatos da Boeing, uma retaliação direta às tarifas de até 145% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos chineses. A decisão, reportada pela Bloomberg, não é apenas um capítulo a mais na guerra tarifária entre as duas maiores economias do mundo — é um ataque cirúrgico a um dos setores mais sensíveis dos EUA: a indústria aeroespacial. Com a Boeing enfrentando uma queda de 4,6% em suas ações no pré-mercado e uma crise que se aprofunda, o que isso significa para o futuro da aviação e da economia global? Vamos mergulhar nos detalhes.

A China e a Boeing: Uma Relação Estratégica em Xeque

A China não é apenas um cliente da Boeing — é um pilar fundamental de sua operação. Representando cerca de 20% da demanda global por aeronaves comerciais, o país absorveu, somente no último ano, um quarto da produção da fabricante americana. Gigantes como China Southern Airlines, Air China e Xiamen Airlines estão entre os principais compradores dos jatos Boeing, especialmente o modelo 737 Max, que tem sido o carro-chefe da empresa. No entanto, a recente escalada nas tensões comerciais mudou o jogo.

A suspensão das entregas, que entrou em vigor em 12 de abril de 2025, afeta diretamente cerca de dez aeronaves 737 Max que estavam prontas para serem entregues. Algumas dessas aeronaves estão paradas em Seattle, nos Estados Unidos, enquanto outras aguardam os retoques finais na unidade da Boeing em Zhoushan, na China. Embora fontes indiquem que entregas previamente contratadas podem ser concluídas caso a caso, a incerteza paira como uma nuvem negra sobre a Boeing e seus investidores.

Impactos Imediatos: A Queda das Ações e a Dor no Mercado

A notícia da retaliação chinesa não passou despercebida pelos mercados financeiros. As ações da Boeing despencaram 4,6% no pré-mercado, ampliando uma perda acumulada de 10% desde o início do ano. Esse tombo reflete não apenas a gravidade da suspensão, mas também a vulnerabilidade da empresa, que já enfrentava ventos contrários. Em 2024, a Boeing lidou com uma crise de qualidade envolvendo o 737 Max, marcada por um incidente em voo em janeiro, além de uma greve de dois meses que paralisou suas fábricas. Esses desafios internos, somados à falta de grandes encomendas da China, tornam a situação ainda mais delicada.

Por que a China Escolheu a Boeing como Alvo?

A decisão de mirar a Boeing não é aleatória. A empresa é a maior exportadora dos Estados Unidos, e seus produtos são um símbolo do poder industrial americano. Ao suspender as entregas, a China atinge diretamente a economia dos EUA, enquanto envia uma mensagem clara a Trump: a guerra tarifária terá consequências dolorosas. Além disso, a medida explora uma fraqueza específica da Boeing, que depende fortemente do mercado chinês para manter sua carteira de pedidos robusta.

Curiosamente, a China também está tomando medidas para proteger suas próprias companhias aéreas. O governo chinês avalia formas de mitigar o impacto dos custos elevados de leasing para as empresas que operam jatos Boeing. Com os preços de manutenção e aquisição inflados pelos 125% de tarifas retaliatórias impostas por Pequim sobre produtos americanos, as companhias aéreas chinesas enfrentam um dilema financeiro. A solução pode incluir subsídios ou incentivos para manter a frota operacional, mas isso não reduz o impacto sobre a Boeing.

O Contexto da Guerra Tarifária: Um Jogo de Titãs

A suspensão das entregas é apenas o mais recente capítulo de uma guerra comercial que ganhou força em 2025. Trump, em sua segunda administração, intensificou as tarifas sobre importações chinesas, elevando-as para 145% em alguns casos. Em resposta, a China retaliou com tarifas de 125% sobre produtos americanos, incluindo aeronaves. Essa troca de golpes tem consequências que vão além da Boeing, afetando cadeias de suprimento globais e aumentando os preços para consumidores em ambos os países.

Enquanto Trump defende as tarifas como uma forma de proteger a economia americana, críticos alertam que elas podem levar a inflação, desemprego e até uma recessão. Dados recentes mostram que o PIB dos EUA contraiu pela primeira vez em três anos no último trimestre, um sinal preocupante de que as tensões comerciais estão cobrando seu preço. A Boeing, como vítima colateral desse conflito, agora enfrenta o desafio de redirecionar seus jatos para outros mercados, uma tarefa que não será fácil em um cenário de demanda global incerta.

O Futuro da Boeing: Desafios e Oportunidades

A Boeing não está de braços cruzados. O CEO Kelly Ortberg afirmou que a empresa buscará redirecionar os jatos rejeitados pela China para outras companhias aéreas, como a Air India, que já demonstrou interesse. No entanto, encontrar compradores para dezenas de aeronaves em curto prazo é uma tarefa hercúlea, especialmente considerando os custos de armazenamento e remarcação. Além disso, a empresa precisa lidar com a percepção de instabilidade, que pode afastar investidores e clientes.

Por outro lado, a crise pode abrir portas para concorrentes. A Embraer, fabricante brasileira de aviões, viu suas ações subirem mais de 3% após a notícia da suspensão, com analistas apontando que a empresa pode suprir parte da demanda chinesa. A COMAC, fabricante chinesa do jato C919, também pode ganhar terreno, especialmente se a China decidir priorizar sua indústria doméstica.

Conclusão: Um Céu Turbulento à Frente

A suspensão das entregas de jatos Boeing pela China é mais do que uma manobra comercial — é um lembrete do poder das decisões políticas no cenário global. Enquanto a Boeing luta para se recuperar de crises internas e externas, a guerra tarifária entre EUA e China continua a moldar o futuro da economia mundial. Para os leitores, fica a reflexão: até onde essa escalada pode nos levar, e quem pagará o preço final?

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Sobre o autor: Suleimane Wague
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