Após quatro dias de violentos confrontos na fronteira da Caxemira, Índia e Paquistão anunciaram um cessar-fogo imediato no sábado (10/5), trazendo alívio temporário a uma região marcada por décadas de tensões. O acordo, mediado por esforços diplomáticos de países como Estados Unidos, Turquia e Arábia Saudita, foi celebrado como um passo para evitar uma escalada entre duas potências nucleares. Mas o que levou a esse conflito, e o que podemos esperar agora? Vamos mergulhar nos detalhes.
A Caxemira, região montanhosa disputada por Índia e Paquistão desde a partição de 1947, voltou ao centro das atenções após um ataque indiano em 7 de maio, que atingiu alvos no Paquistão e na Caxemira sob controle paquistanês. A operação, batizada de “Sindoor”, foi justificada pela Índia como retaliação a um atentado em 22 de abril, que matou 26 pessoas, principalmente turistas, em Pahalgam, na Caxemira indiana. A Índia acusou militantes baseados no Paquistão, o que Islamabad negou veementemente.
Na madrugada de sábado (10/5), a tensão escalou. O Paquistão alegou que a Índia lançou mísseis contra três de suas bases aéreas, incluindo Nur Khan, em Rawalpindi, a apenas 10 km da capital. O tenente-general paquistanês Ahmed Sharif Chaudhry afirmou que o sistema de defesa interceptou a maioria dos mísseis, mas três acertaram os alvos, causando danos. Em resposta, o Paquistão iniciou a “Operação Banyan Marsus”, com mísseis de alta velocidade mirando bases aéreas indianas.
A Índia, por sua vez, negou danos significativos em sua infraestrutura militar, mas confirmou ataques paquistaneses com drones e armamento de longo alcance. Explosões foram relatadas ao longo da Linha de Controle, a fronteira de fato na Caxemira, com detonações ouvidas em cidades como Srinagar, Jammu e Rawalpindi.
Os confrontos deixaram um rastro de destruição. No lado indiano, o vice-comissário de Rajouri, Raj Kumar Thapa, morreu em um bombardeio paquistanês, junto com pelo menos dois civis em Jammu. Moradores da colônia Rehadi, em Jammu, relataram danos a casas e carros, descrevendo pânico generalizado. “Por que o Paquistão está mirando pessoas comuns?”, questionou Rakesh Gupta, um residente local.
O Paquistão, por outro lado, reportou 31 mortos e 57 feridos nos ataques indianos de 7 de maio. Autoridades paquistanesas negaram que civis tenham sido alvos, insistindo que apenas instalações militares foram atingidas.
A escalada também afetou a infraestrutura regional. A Índia fechou 32 aeroportos no norte e oeste até 15 de maio, enquanto o Paquistão reabriu seu espaço aéreo após o cessar-fogo.
O vice-primeiro-ministro do Paquistão, Ishaq Dar, anunciou o cessar-fogo, destacando o compromisso do país com “paz e segurança na região, sem comprometer a soberania”. Ele revelou que “três dúzias de países” participaram das negociações, com destaque para Turquia, Arábia Saudita e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antecipou o acordo em uma postagem na Truth Social, descrevendo-o como resultado de uma “longa noite de negociações mediadas pelos EUA”. Trump parabenizou ambos os países por “usarem o bom senso e grande inteligência”.
Na Índia, oficiais de defesa confirmaram a aceitação do cessar-fogo, mas prometeram permanecer vigilantes. A correspondente da BBC no Sul da Ásia, Samira Hussain, informou que as conversas entre os dois países continuarão na segunda-feira, sugerindo que o acordo é apenas o primeiro passo.
A comunidade internacional reagiu com alívio, mas também com preocupação. O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu “máxima contenção militar”, enquanto o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, destacou que “ninguém sairá ganhando” com uma escalada. A Rússia condenou o terrorismo e pediu esforços globais para evitar novos conflitos.
Anbarasan Ethirajan, editor de Sudeste Asiático da BBC, classificou a situação como uma “escalada dramática”, lembrando que ambos os países possuem armas nucleares. “As tensões estão altas, e é difícil prever o curso de qualquer conflito militar”, alertou.
A Caxemira permanece um dos focos de maior instabilidade no sul da Ásia, com Índia e Paquistão travando três guerras desde 1947. O cessar-fogo atual é um alívio, mas a história sugere que a paz pode ser frágil. O ex-secretário de Relações Exteriores da Índia, Harsh Vardhan Shringla, acusou o Paquistão de agravar o conflito, enquanto o ministro da Informação paquistanês, Attaullah Tarar, insistiu que seu país apenas respondeu à agressão indiana.
Para Jeremy Bowen, editor internacional da BBC, evitar uma nova escalada exigirá “um grande esforço diplomático”. Com ambos os lados sob pressão interna para demonstrar força, o sucesso das negociações de segunda-feira será crucial.
Enquanto isso, a população da Caxemira, que vive no epicentro do conflito, continua a sofrer as consequências. A pergunta que fica é: este cessar-fogo será o começo de uma solução duradoura ou apenas uma pausa em um ciclo de violência?