Nova Onda de Ataques em Ancuabe Desloca 15 Mil Pessoas em Moçambique

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Uma nova onda de violência abalou o distrito de Ancuabe, na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, forçando cerca de 15 mil pessoas a abandonar suas casas. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), os ataques, ocorridos em 31 de março de 2025, atingiram as comunidades de Nkole, Nonia, Muela, Ngura e Miegane, deixando um rastro de destruição e medo.

Detalhes dos Ataques

Os ataques, atribuídos a grupos armados ligados ao Estado Islâmico, foram marcados por saques, incêndios de casas, raptos e assassinatos seletivos. De acordo com o relatório do ACNUR, os insurgentes invadiram as aldeias durante a noite, exigindo dinheiro dos moradores sob ameaça de morte ou sequestro. Em alguns casos, resgates de até 10 mil meticais (cerca de 137 euros) foram cobrados, uma quantia exorbitante para comunidades já vulneráveis. Jovens foram raptados, e infraestruturas essenciais, como casas e equipamentos comunitários, foram destruídas.

“Os incidentes causaram traumas significativos entre a população. A assistência psicossocial e a recuperação de documentos pessoais são necessidades urgentes”, destaca o ACNUR.

Contexto da Violência em Cabo Delgado

Cabo Delgado, uma região rica em reservas de gás natural, enfrenta uma insurgência armada desde outubro de 2017. Os ataques, frequentemente reivindicados por movimentos associados ao Estado Islâmico, já resultaram em milhares de mortes e mais de um milhão de deslocados internos. Em 2024, pelo menos 349 pessoas perderam a vida em ações de grupos extremistas na região, um aumento de 36% em relação ao ano anterior, segundo o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).

O ataque mais recente antes deste, em 17 de novembro de 2024, na aldeia de Nacuale, deixou 15 mortos e intensificou o clima de pânico em Ancuabe, que fica a apenas 150 quilômetros de Pemba, a capital provincial. A proximidade com áreas urbanas e rotas importantes, como a estrada Nacional 14, aumenta a preocupação com a segurança.

Crise Humanitária e Necessidades Urgentes

A fuga em massa de 15 mil pessoas sobrecarregou as comunidades de acolhimento em Ancuabe. O ACNUR alerta para a necessidade imediata de assistência psicossocial, proteção contra violência de gênero, apoio a pessoas com deficiência e emissão de novos documentos para os deslocados, que muitas vezes perdem tudo nos ataques. Alimentação, abrigo e itens básicos também são prioridades.

A situação é agravada pela tática dos insurgentes, que agora operam em grupos menores, facilitando infiltrações em aldeias. Essa mudança de estratégia torna o combate aos rebeldes ainda mais desafiador para as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, apoiadas por militares ruandeses.

Um Apelo por Soluções

Enquanto a violência persiste, a população de Cabo Delgado clama por paz e apoio internacional. A Igreja local, por meio de organizações como a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), tem intensificado esforços humanitários, fornecendo abrigo, alimentos e apoio espiritual. O bispo de Tete, Dom Diamantino Antunes, lamentou a destruição de aldeias e infraestruturas, pedindo solidariedade global.

A crise em Ancuabe é um lembrete da complexidade do conflito em Cabo Delgado, onde a riqueza em recursos naturais contrasta com a pobreza e a insegurança. Resolver essa crise exige não apenas esforços militares, mas também investimentos em desenvolvimento, inclusão social e proteção aos direitos humanos.

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Sobre o autor: Suleimane Wague
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