Rússia e China Reforçam Diálogo sobre EUA e Guerra na Ucrânia em Encontro Estratégico

Em um movimento que reforça a aliança estratégica entre Moscou e Pequim, os ministros das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e da China, Wang Yi, reuniram-se no último domingo, 13 de julho de 2025, em Pequim, para discutir temas cruciais de interesse global, com destaque para as relações com os Estados Unidos e a guerra na Ucrânia. O encontro, que ocorreu às vésperas da reunião do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), foi descrito como “construtivo e baseado na confiança” pela diplomacia russa, sinalizando a solidez da parceria entre os dois países em um cenário geopolítico cada vez mais tenso.

Um Diálogo em Meio a Tensões Globais

A reunião entre Lavrov e Yi abordou questões sensíveis, incluindo a possibilidade de resolução do conflito na Ucrânia com base nos princípios da Carta das Nações Unidas. Além disso, os ministros discutiram outros temas “quentes”, como o conflito israelo-iraniano e a situação na península coreana, refletindo a amplitude das preocupações compartilhadas por Rússia e China. A escolha de Pequim como palco do encontro, logo após a visita de Lavrov à Coreia do Norte, destaca o papel da China como um eixo central na estratégia diplomática russa, especialmente em um momento de crescente pressão internacional.

O conflito na Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro de 2022 com a invasão russa, foi um dos pontos centrais da discussão. A guerra, que já dura mais de três anos, transformou-se em um dos maiores desafios geopolíticos da atualidade, com profundas consequências para a ordem mundial. A Rússia, sob a liderança de Vladimir Putin, intensificou suas ofensivas, enquanto a Ucrânia, apoiada por potências ocidentais como os Estados Unidos e membros da OTAN, resiste com contra-ataques e busca manter sua soberania. Nesse contexto, a China tem adotado uma postura de neutralidade oficial, mas suas ações indicam um alinhamento estratégico com a Rússia, especialmente no campo econômico.

A China e a “Janela Estratégica”

A relação entre Rússia e China ganhou ainda mais relevância desde o início do conflito na Ucrânia. Em 2023, o comércio bilateral atingiu um recorde de US$ 240 bilhões, um aumento de 64% em relação a 2021, com a China se tornando o principal destino das exportações russas de petróleo e gás, enquanto Moscou importa automóveis, semicondutores e outros produtos chineses. Essa interdependência econômica tem sido crucial para a Rússia, que enfrenta sanções ocidentais desde a anexação da Crimeia em 2014 e a intensificação do conflito em 2022.

Um artigo recente do South China Morning Post revelou que Wang Yi, em uma reunião fechada com a ministra das Relações Exteriores da União Europeia, Kaja Kallas, teria expressado que Pequim não deseja uma derrota russa na Ucrânia. A lógica por trás disso seria a “janela estratégica” que o conflito proporciona à China: enquanto os Estados Unidos concentram recursos e atenção na Europa, Pequim ganha espaço para manobrar em questões regionais, como Taiwan e o Mar do Sul da China. Essa abordagem de “realpolitik” sugere que a China vê o prolongamento do conflito como uma forma de limitar a influência americana no Leste Asiático.

No entanto, Wang Yi negou acusações de que a China fornece assistência militar direta à Rússia, afirmando que, caso isso ocorresse, “o conflito já teria terminado”. Apesar disso, relatórios apontam que Pequim exporta produtos de dupla utilização (com aplicações civis e militares) para a Rússia, como semicondutores e drones, muitas vezes por meio de empresas de fachada em Hong Kong e nos Emirados Árabes Unidos. Essa prática tem gerado críticas da OTAN, que, em sua cúpula de julho de 2024, acusou a China de ser um “apoio decisivo” à campanha militar russa.

Relações com os EUA: Um Ponto de Tensão

As conversas entre Lavrov e Yi também abordaram as relações com os Estados Unidos, especialmente no contexto da nova administração de Donald Trump, que assumiu a presidência em 2025. Trump tem prometido encerrar o conflito na Ucrânia rapidamente, mas suas declarações indicam uma possível redução no apoio militar à Ucrânia, o que poderia beneficiar a Rússia. Em uma entrevista à NBC News, ele sugeriu que Kiev deveria se preparar para receber menos ajuda, embora tenha negado a intenção de abandonar completamente o país.

Por outro lado, a Rússia expressou preocupações com a possibilidade de os EUA implantarem mísseis de curto e médio alcance na Europa, uma medida que Putin classificou como uma violação das “linhas vermelhas” de Moscou. Em resposta, o presidente russo ameaçou suspender todas as restrições voluntárias à instalação de mísseis russos, o que poderia escalar ainda mais as tensões com o Ocidente.

A China, por sua vez, criticou a OTAN por expandir sua influência na região Ásia-Pacífico e por acusações de apoio à Rússia. Pequim também expressou descontentamento com o fortalecimento dos laços militares entre os EUA e seus aliados asiáticos, como Japão e Coreia do Sul, vendo isso como uma ameaça à sua segurança regional.

Um Equilíbrio Delicado

O encontro entre Lavrov e Yi reflete o delicado equilíbrio que Rússia e China buscam manter em um mundo polarizado. Enquanto a Rússia depende da China para contornar sanções e sustentar sua economia, Pequim utiliza a parceria com Moscou para contrabalançar a influência dos EUA. No entanto, a China tem evitado um envolvimento direto no conflito na Ucrânia, mantendo uma postura cautelosa para não comprometer suas relações com a Europa, um mercado crucial para suas exportações.

Para a Rússia, o apoio chinês é vital, mas prolongar o conflito na Ucrânia pode não ser sustentável a longo prazo. Como apontado pela Pravda, a guerra representa uma distração para Moscou, que perde influência em outras regiões e enfrenta desafios internos crescentes. Para a Ucrânia, o fortalecimento da aliança russo-chinesa é um obstáculo adicional em sua luta por soberania, enquanto o Ocidente enfrenta o desafio de manter a coesão em sua resposta ao conflito.

Conclusão

O diálogo entre Rússia e China em Pequim é mais um capítulo na reconfiguração das alianças globais em meio à guerra na Ucrânia e às tensões com os Estados Unidos. A parceria entre Moscou e Pequim, baseada em interesses econômicos e estratégicos, desafia a hegemonia ocidental e redefine o equilíbrio de poder no cenário internacional. Enquanto a Rússia busca consolidar seus ganhos territoriais e a China aproveita a distração do Ocidente, o futuro do conflito na Ucrânia permanece incerto, com implicações profundas para a segurança global.

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Sobre o autor: Maimuna Carvalho
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