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Em um movimento inesperado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma cimeira com os líderes de cinco nações africanas – Gabão, Guiné-Bissau, Libéria, Mauritânia e Senegal – marcada para os dias 9 a 11 de julho de 2025, em Washington. A iniciativa, revelada no dia 3 de julho, sinaliza uma tentativa de reposicionar as relações entre os EUA e o continente africano, com foco em oportunidades comerciais e parcerias estratégicas, em detrimento de programas tradicionais de ajuda humanitária. Mas o que está por trás dessa abordagem? E o que ela significa para as nações envolvidas?
A cimeira, descrita como uma “minicúpula” pela imprensa, reflete a política externa de Trump, centrada na sua agenda “America First”. Segundo fontes da Casa Branca, o encontro priorizará discussões sobre comércio, investimentos e oportunidades econômicas, em vez de programas de assistência ao desenvolvimento, que foram amplamente cortados no segundo mandato do presidente. A decisão vem na esteira de uma recente trégua negociada pelos EUA entre Ruanda e a República Democrática do Congo, sugerindo um interesse renovado, ainda que seletivo, em questões africanas.
Trump tem defendido que os laços comerciais com África devem substituir a ajuda humanitária, uma abordagem que contrasta com a política de administrações anteriores, como a de Joe Biden, que priorizou iniciativas como o corredor do Lobito, em Angola. Analistas apontam que essa mudança reflete uma visão pragmática, focada em benefícios econômicos diretos para os EUA, especialmente no acesso a recursos minerais estratégicos, como terras raras, abundantes em países africanos.
A cimeira ocorre em um momento delicado para as relações entre os EUA e África. Em maio de 2025, uma reunião bilateral entre Trump e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, gerou controvérsia. Durante o encontro, Trump acusou o governo sul-africano de promover um “genocídio branco” contra agricultores, exibindo vídeos que, segundo ele, comprovariam suas alegações. A África do Sul negou veementemente as acusações, classificando-as como desinformação, e Ramaphosa destacou que a criminalidade no país afeta majoritariamente a população negra, não os brancos.
Esse episódio, descrito como uma “emboscada” diplomática, expôs tensões crescentes, especialmente após Trump cortar financiamentos à África do Sul, incluindo verbas para programas de combate ao HIV, e oferecer asilo a 59 sul-africanos brancos, alegando perseguição racial – uma medida rejeitada por sindicatos locais e criticada pela Human Rights Watch como uma distorção racial.
A escolha de Gabão, Guiné-Bissau, Libéria, Mauritânia e Senegal para a cimeira sugere uma abordagem mais focada em nações com menor peso geopolítico, possivelmente para evitar confrontos diretos como o ocorrido com a África do Sul. Esses países, embora diversos em contextos políticos e econômicos, compartilham desafios como instabilidade regional e dependência de investimentos externos, o que pode torná-los parceiros atraentes para os planos de Trump.
A presença de Elon Musk, bilionário sul-africano e aliado próximo de Trump, adiciona uma camada intrigante à cimeira. Musk, que já criticou publicamente o governo sul-africano por supostas “leis racistas” de propriedade, defendeu a instalação de sistemas Starlink em delegacias de polícia da África do Sul para combater a criminalidade. Sua influência pode moldar as discussões, especialmente em temas como tecnologia e infraestrutura, áreas onde suas empresas têm interesses diretos.
Além disso, a cimeira pode ser uma oportunidade para empresas americanas explorarem o potencial mineral africano. A riqueza em minerais críticos, como cobalto e lítio, essenciais para tecnologias verdes, é um atrativo para os EUA, que buscam reduzir a dependência da China. No entanto, especialistas alertam que, sem uma governança robusta, esses acordos podem reforçar desigualdades e práticas exploratórias no continente.
A reação nas redes sociais e na imprensa africana tem sido mista. Postagens no X destacam o anúncio da cimeira, com alguns usuários especulando sobre os motivos por trás da escolha desses países. Um post humorístico sugeriu que Trump poderia estar revisitando “histórias do passado” de líderes africanos, mas a maioria das reações foca na expectativa de acordos comerciais.
Para os países convidados, a cimeira representa uma chance de atrair investimentos, mas também um desafio. A política de Trump de impor tarifas mínimas de 10% a exportações africanas, com o fim iminente da Lei de Crescimento e Oportunidades para África (AGOA), pode complicar as relações comerciais. Analistas, como o angolano Flávio Inocêncio, apontam que os EUA não são tão relevantes para o comércio africano quanto a União Europeia ou a China, que representam parcelas maiores das exportações do continente.
A cimeira de julho pode marcar um ponto de inflexão nas relações EUA-África, mas seu sucesso dependerá da capacidade de Trump de superar o histórico de tensões diplomáticas e de oferecer parcerias mutuamente benéficas. Enquanto a administração Biden enfatizou a inclusão africana em fóruns globais, como o Conselho de Segurança da ONU, Trump parece mais focado em resultados econômicos imediatos, o que pode limitar o escopo da cooperação.
Para os líderes africanos, o desafio será equilibrar os interesses nacionais com as demandas de um presidente conhecido por sua abordagem imprevisível. A cimeira, embora surpresa, não é vista como uma prioridade estratégica para Trump, mas sim como uma oportunidade para consolidar laços com nações específicas, em um contexto de competição global com potências como China e Rússia.