Turismo em Queda: Como as Políticas de Trump Ameaçam Bilhões na Economia dos EUA

As políticas implementadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu segundo mandato, iniciado em 20 de janeiro de 2025, têm gerado impactos significativos no setor de turismo, um dos pilares da economia norte-americana. Com uma combinação de tarifas comerciais agressivas, políticas migratórias rigorosas e uma retórica percebida como hostil, o país enfrenta uma queda drástica no número de visitantes internacionais, com projeções de perdas econômicas que podem alcançar dezenas de bilhões de dólares em 2025. Este artigo explora as causas, os números e as consequências dessa crise no turismo, além de analisar o cenário econômico mais amplo.

Uma Reviravolta Inesperada no Turismo

Antes do início do segundo mandato de Trump, o setor de turismo nos Estados Unidos vivia um momento de otimismo. Em 2024, o país recebeu 72,4 milhões de turistas internacionais, aproximando-se dos níveis pré-pandemia. A expectativa inicial para 2025, segundo a Tourism Economics, era de um crescimento de 8,8% no número de visitantes estrangeiros. No entanto, essa projeção foi revisada para uma queda alarmante de 9,4%, com perdas estimadas em até US$ 64 bilhões no setor, segundo análises do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) e outras fontes.

O turismo é uma força econômica significativa nos EUA, contribuindo com US$ 2,36 trilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, equivalente a cerca de 2,5% do PIB nacional. Além disso, o setor sustenta aproximadamente 15 milhões de empregos. No entanto, as políticas recentes têm revertido a recuperação pós-pandemia, desencorajando viajantes de mercados cruciais como Canadá, Europa e Ásia.

Políticas de Fronteira e Retórica Hostil

Um dos principais fatores por trás da queda no turismo é a política de fronteiras mais rígida implementada pela administração Trump. Desde o início de 2025, relatos de detenções, interrogatórios prolongados e deportações de turistas nas fronteiras dos EUA se multiplicaram. Essas medidas, que incluem revistas minuciosas de smartphones e revogações sumárias de entrada, criaram uma percepção de hostilidade. O presidente da Tourism Economics, Adam Sacks, destacou que notícias sobre turistas europeus detidos tiveram um impacto significativo nos planos de viagem internacionais.

A retórica de Trump, frequentemente interpretada como antiestrangeiro, também tem afastado visitantes. Declarações controversas, como a sugestão de transformar o Canadá em um “51º estado” e críticas a nações aliadas, como países da União Europeia, geraram indignação global. Essa percepção de falta de hospitalidade foi reforçada por alertas de viagem emitidos por países como Reino Unido e Alemanha, que atualizaram suas orientações para cidadãos viajando aos EUA.

O Canadá, segundo maior emissor de turistas para os EUA, registrou uma queda de 20,2% nas visitas em 2025, com reservas de voos para o verão caindo 70% em relação ao ano anterior, segundo a OAG Aviation Worldwide. Hotéis próximos às fronteiras com o Canadá e o México já relatam quedas de 3% a 4,8% nas ocupações.

Impacto das Tarifas Comerciais

As políticas tarifárias de Trump, conhecidas como “tarifaço”, também desempenham um papel central na crise do turismo. Desde abril de 2025, os EUA impuseram alíquotas de importação de 10% a 50% sobre produtos de mais de 180 países, incluindo aliados como o Brasil. Essas tarifas elevaram os preços de bens importados, impactando diretamente o turismo de compras, uma prática popular entre brasileiros e outros viajantes de países em desenvolvimento.

Além disso, a guerra comercial iniciada por Trump tem gerado incertezas econômicas globais, reduzindo a disposição de viajantes internacionais para gastar nos EUA. Um dólar forte e economias globais em desaceleração agravam o cenário, enquanto países como a China, que flexibilizam requisitos de visto, atraem mais turistas. A CEO do WTTC, Julia Simpson, resumiu a situação: “Enquanto outras nações estendem o tapete de boas-vindas, o governo dos EUA coloca uma placa de ‘fechado’.”

Efeitos Econômicos e Reações do Setor

A queda no turismo já se reflete em números concretos. Em março de 2025, as chegadas de turistas internacionais caíram 11,6% em relação ao mesmo período de 2024, com mercados como Reino Unido (-15%), Alemanha (-28%) e Coreia do Sul (-15%) registrando declínios significativos. Países como Espanha, Colômbia e Irlanda também reportaram quedas entre 24% e 33%.

Companhias aéreas, hotéis e pequenos negócios ligados ao turismo estão sentindo o impacto. A Delta Air Lines, a Southwest Airlines e a American Airlines revisaram suas projeções de lucro para baixo devido à queda na demanda por voos transatlânticos e viagens de negócios. Mais de 61% das empresas hoteleiras entrevistadas pela National Tour Association relataram cancelamentos, enquanto 56% enfrentaram perdas de receita.

Na Califórnia, um dos principais destinos turísticos dos EUA, a organização Visit California reduziu em US$ 6 bilhões sua previsão de gastos de turistas para 2025. Pequenos negócios, como hotéis e restaurantes próximos às fronteiras, são particularmente afetados, com proprietários temendo uma “grande onda de cancelamentos” em meio a preocupações com uma possível recessão.

Consequências para a Economia Americana

O declínio no turismo ocorre em um momento de fragilidade econômica nos EUA. O PIB do país registrou uma queda de 0,5% no primeiro trimestre de 2025, impactado pelo aumento das importações (empresas antecipando compras para evitar tarifas) e cortes nos gastos do governo federal. A confiança do consumidor está próxima dos menores níveis em cinco anos, enquanto as bolsas de valores, como o S&P 500 e o Nasdaq, sofreram quedas significativas em meio a temores de recessão.

Apesar disso, Trump minimiza os impactos, afirmando que a economia está em um “período de transição” e que as tarifas trarão empregos de volta aos EUA. No entanto, analistas como Edemilson Paraná, da LUT University, questionam a eficácia dessas políticas, apontando que a desindustrialização dos EUA, iniciada décadas atrás, não será revertida facilmente.

Perspectivas e Alternativas

Apesar do cenário desafiador, há previsões de uma recuperação parcial no turismo em 2026, impulsionada pela Copa do Mundo, que será realizada nos EUA entre junho e julho. A Tourism Economics estima um aumento de 8,8% nas chegadas internacionais durante o evento, embora o vice-presidente JD Vance tenha reforçado que os visitantes precisarão deixar o país após o torneio.

Enquanto isso, países como Canadá e nações europeias estão se beneficiando do desvio de turistas que evitam os EUA. Agências de viagem relatam um aumento nas buscas por destinos alternativos, como o Canadá, que alguns europeus veem como um “ato de solidariedade” em resposta às tensões com Trump.

Um Futuro Incerto

As políticas de Trump, combinadas com uma retórica polarizadora, estão transformando os EUA em um destino menos atraente para turistas internacionais. A queda no turismo não apenas ameaça bilhões em receitas, mas também expõe vulnerabilidades na economia americana, que enfrenta riscos de recessão e perda de competitividade global. Enquanto o governo insiste que as medidas trarão benefícios a longo prazo, o setor de turismo e os pequenos negócios já sentem o peso imediato dessas decisões.

Para os viajantes, a mensagem é clara: os EUA, outrora um símbolo de hospitalidade e oportunidade, agora enfrentam o desafio de reconquistar sua reputação global. A pergunta que permanece é se o país conseguirá reverter essa tendência antes que as perdas se tornem ainda mais profundas.

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Sobre o autor: Maimuna Carvalho
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