Velório de John Kachamila em Maputo: Moçambique Presta Homenagem a um Ícone da Luta pela Liberdade

Maputo, 10 de julho de 2025 – A capital moçambicana está envolta em um clima de luto e reverência nesta quinta-feira, com a realização do velório de John William Kachamila, ex-ministro dos Recursos Minerais, Energia e Coordenação da Acção Ambiental, falecido no último dia 3 de julho, aos 79 anos, vítima de doença no Hospital Central de Maputo. O evento, que acontece nos Paços do Conselho Municipal de Maputo, reúne familiares, amigos, colegas e altas figuras do governo, incluindo o Presidente da República, em uma última homenagem a um dos pilares da história de Moçambique.

Uma Vida Dedicada à Nação

John Kachamila, nascido em 30 de janeiro de 1946, em Lunguawa, distrito do Lago, província de Niassa, deixou um legado indelével como combatente da luta de libertação nacional e servidor público. Aos 17 anos, em 1963, juntou-se à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), dedicando sua juventude à causa da independência. Sua formação acadêmica o levou à Tanzânia e à antiga Jugoslávia, onde viveu por uma década e concluiu seus estudos superiores em Geologia e Minas, em 1978. Essa expertise técnica moldou sua trajetória como um dos principais gestores dos recursos naturais do país.

No governo moçambicano, Kachamila ocupou cargos de destaque, incluindo Chefe dos Serviços Geológicos Nacionais, Diretor Nacional de Geologia e Minas, Presidente da Comissão Nacional do Meio Ambiente, Ministro dos Recursos Minerais (1986-1994), Ministro dos Recursos Minerais e Energia (1994-2000) e Ministro para a Coordenação da Acção Ambiental (2000-2004). Sua gestão foi marcada por uma visão responsável e sustentável, que lançou as bases para a exploração consciente dos recursos naturais e a formação de quadros nacionais, conforme destacou o atual Ministro dos Recursos Minerais e Energia, Estevão Pale.

Um Patriota Humilde e Visionário

Durante a cerimônia fúnebre, figuras proeminentes do país prestaram tributos emocionados. O ex-presidente Joaquim Chissano destacou o patriotismo de Kachamila, afirmando que ele “educava pelo exemplo, sem precisar de palavras”. Já o ex-presidente Armando Guebuza enalteceu sua resiliência, lembrando que, mesmo diante de grandes dificuldades, Kachamila “sempre soube vencer”. O atual presidente, Filipe Nyusi, descreveu-o como um “homem humilde, respeitoso e inteligente”, cuja postura silenciosa e produtiva conquistou a admiração de todos.

Celmira Pena Da Silva, Secretária do Comité Central para Formação e Quadros da FRELIMO, definiu Kachamila como um “dirigente visionário, competente e convicto”, enquanto seus filhos o lembraram como um “comandante” e “guia”, cuja paz interior e amor pelo país inspiraram gerações. “Nos últimos sete meses, aprendi com ele a dar sem esperar retorno, a perdoar sem motivo e a enfrentar a dor com dignidade”, compartilhou o filho mais novo da família, em um depoimento comovente.

Contribuições Inesquecíveis

Além de sua carreira política, Kachamila também deixou sua marca como autor. Sua obra, Do Vale do Rift ao Sonho da Liberdade: Memórias de Lissungo, lançada em Washington, D.C., narra sua trajetória na luta pela independência, sua vida pessoal e as crônicas de sua família, reforçando a importância de preservar a história moçambicana. Ele acreditava que “se morrermos, a história também morre”, uma frase que reflete sua dedicação em compartilhar o passado para inspirar o futuro.

Kachamila também se pronunciou sobre questões cruciais, como a luta contra o terrorismo em Cabo Delgado. Em 2020, defendeu a necessidade de uma coordenação internacional para enfrentar o problema, destacando a complexidade do fenômeno que envolve tráfico de pessoas e drogas. Sua voz lúcida e ponderada foi um farol em momentos de crise.

Um Adeus em Lhanguene

Após o velório, os restos mortais de John Kachamila serão sepultados hoje no cemitério de Lhanguene, em Maputo, em uma cerimônia que marca o último capítulo de uma vida dedicada à nação. O governo moçambicano reconheceu sua morte como uma “perda irreparável”, especialmente em um momento em que o país enfrenta desafios na gestão sustentável de seus recursos naturais.

A despedida de Kachamila não é apenas o fim de uma era, mas também um convite à reflexão sobre os valores que ele defendeu: patriotismo, humildade, competência e compromisso com o bem comum. Moçambique perde um de seus grandes, mas seu exemplo permanece como um guia para as futuras gerações.

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Sobre o autor: Maimuna Carvalho
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